29 outubro 2008

ENVOLVER-SE

Automaticamente, todos os dias, o ser humano deixa de perceber determinadas coisas ao seu redor: perceber significa, de alguma forma, envolver-se.

Naturalmente entende “já ter problemas demais”, desta forma evita perceber uma série de coisas para não ter que se envolver com novas situações que poderiam trazer alguns “probleminhas” a mais...

A miopia cotidiana, ou “vista grossa”, muitas vezes ocorre automaticamente, tem-se a pretensão de pensar que dessa forma estará a salvo de qualquer cobrança de atitude, ou de qualquer envolvimento futuro..., não sabia..., não vi..., não percebi o que acontecia..., desculpe..., esqueci...

O fato é que essa “miopia” muitas vezes, leva a viver em um mundo que não existe, um mundo simplificado que, tantas vezes, acaba por agravar os “probleminhas”, e não evita-los ou soluciona-los.

Na realidade, é medo do perigo que possa causar, a si mesmo, por participar e fazer interações que “podem” implicar em responsabilidade perante o Outro, ou na necessidade de uma tomada de atitude frente à constatação de um fato. É mais fácil não perceber, não ver, deixar pra lá.

Os novos tempos, que se avizinha, não têm espaço para a falta de compromisso, para o descaso, ou mesmo, para a miopia cotidiana.

Olhos e ouvidos, internos, intuitivos e perceptivos, deverão estar abertos e despertos para participar, de forma discreta, mas não dissimulada, das ocorrências do dia-a-dia. Fazer de conta, não se comprometer com seus desejos e ter iniciativa consciente e responsavel, não é mais desculpa para a não atitude. Muitas vezes não entendendo muito bem do que se trata, mas estando aberto às oportunidades de exercitar o amor, a compaixão, a compreensão, a tolerância e o perdão - a si mesmo, na maioria das vezes.

Envolver-se, observar, participar, de forma discreta, sem transgredir o respeito e a individualidade ou o limite da escolha, é ser “humano”, com inteligência emocional para entender que somos seres gregários exatamente por necessitarmos uns dos outros para estarmos crescendo a caminho da luz, do autoconhecimento. Desenvolvendo nosso potencial de apenas desejar.

21 outubro 2008

A VIDA PODERIA TER SIDO DIFERENTE!


Quantas vezes ouvimos ou falamos desta forma?

Acredito que a vida é como aquela brincadeira feita com dominós. Um colocado de pé, frente ao outro, e, quando um é derrubado, os outros irão caindo em seqüência até que o último caia, em cascata. Efeito dominó, conseqüência imediata, a ação que gera uma reação e um resultado.
Na brincadeira, nos fascinamos em observar a trajetória, o desenho, a beleza, a arte, a habilidade do artista.

O mesmo acontece na vida – ação > reação = resultado. A diferença está em que, na vida, não se observa a trajetória, observamos apenas com pouca atenção, a primeira pedra, e com sofrimento os resultados. A trajetória sequer é percebida. Tantas vezes a beleza do trajeto, a criatividade e a beleza desse arranjo, não é vista.

Imagine uma situação qualquer. Não importa qual. Olhe para ela, siga-a passo-a-passo. Qual foi a primeira ação ou foi uma reação?

A primeira ação provocou uma reação, e essa reação uma nova ação e assim sucessivamente. Observe, uma a uma, sem pressa para chegar à última (que jamais será). O que motivou a primeira ação? Foi ação ou reação? Se for ação ou reação, qual a intenção que se esperava obter, qual resultado (reação)?
Naquele momento foi satisfatório ou não atingiu o fim desejado, e desta forma aprendeu-se que a ação, ou reação, deveria ser modificada para se tentar atingir o fim proposta, o fim do jogo?

De ação/reação o jogo continua e nesse jogo (da vida) varias outras vidas trocam experiências e interagem. Os personagens entram e saem, o script vai se modificando a cada nova situação, a cada nova ação ou reação.

E assim vai, vida a fora, algumas vezes o jogo tem um bonito desenho, outras, se contorce, enrosca, tem que se endireitar as peças, e vai-se caminhado, agregando novos valores, novos conhecimentos, novos companheiros, novos comportamentos.

Ao se olhar para a primeira ação (quando possível), e desfilamos lado a lado com os acontecimentos; sendo apenas um observador, uma testemunha silenciosa, que não julga, apenas observa os fatos e acontecimentos mais significativos e escreve a história; observamos o que foi agregado, o que faria diferente, o que poderia modificar em seu momento atual.

Certa vez atendi uma senhora, em profundo estado de depressão, com muitas dores na coluna e fortes dores nas mãos e se queixava de quedas constantes, dizia ter joelhos “frouxos”. Sua maior queixa não era, exatamente, a depressão, mas as dores que a “incomodavam terrivelmente”. Com a depressão (a qual ela chamava de tristeza) ela já havia se acostumado, que faziam parte da vida, bla bla bla..., mas aquelas dores a estava matando, que aquilo deveria ser castigo, que a vida não estava sendo justa com ela; que tanto sacrifício..., ter passado por tudo o que já havia passado..., e agora tinha que sofrer tamanhas dores..., que havia se separado do marido há séculos atrás, (30 anos), quando as “crianças” (uma filha 32 anos e um filhos 38 anos), ficou praticamente abandonada (professora pública e diretora de escola particular aposentada) e teve que sustentar sozinha aquela situação, criar os filhos, estudar, trabalhar, bla bla bla...

Reclamou por umas 4 ou 5 sessões, seu vitimismo só aumentava e se auto nutria. Não havia parado e olhado, de fora, sua trajetória. Olhava apenas para o que poderia ter tido, o que havia perdido, o que poderia ter feito, não o que havia ganho ou produzido.

Quando finalmente trabalhamos, detalhadamente, passo a passo sua trajetória; um trabalho dolorido, que requer determinação e força de vontade - (o que não lhe faltava, visto ter energia suficiente para utilizar contra si); surpreendeu-se com as conquistas feitas, por seu próprio empenho e mérito pessoal. As pessoas que havia conhecido, as que havia influenciado, as que a haviam inspirado...

Surpreendeu-se mais ainda, quando fez a trajetória inversa, “como se não tivesse”..., o resultado teria sido desastroso. Tendo em vistas os acontecimentos passados (mais de 30 anos), se tivesse se mantido na relação, talvez hoje pudesse ser viúva presa em algum sistema carcerário, poderia ter-se aniquilado, sido enfraquecida, submetida, estaria internada em alguma clinica, etc... (ela é dramática, mas tem caráter forte).

Ao fazer a descrição - mais para si do que para mim; do que poderia ter sido, e do que era naquele momento, e que na realidade, seu trajeto apenas demonstrou o quanto era possível não ter mais aquela muleta de “coitadinha” e pseudo dependência. As dores misteriosamente foram diminuindo, os joelhos não mais “afrouxaram” e as mãos passaram realmente a pegar com determinação consciente. Começou a realmente desfrutar as conquistas feitas.

E você, como seria sua vida Hoje, Agora, se aquela situação, decisão, ação, reação, tivesse sido diferente? Qual benefício você obteve ao tomar essa ou aquela decisão, ter tido essa ou aquela atitude?

Para sair do passado, temos que ter a coragem de olhar para ele, da forma como ele é, não da forma como virtualmente nos lembramos dele. Elaborar honestamente a nós mesmos, não os outros envolvidos em nosso jogo de dominós.


20 outubro 2008

QUEBRA DE PARADGMAS

· I - Universo e Globalização:

- Perguntamos sempre o que viemos fazer aqui? Quem somos neste contexto global?
O mundo moderno era um mundo que favorecia ordem unida, ditando um padrão comportamental onde a esquisitice não incomodava tanto porque a pessoa se acomodava em algum estereótipo que esse mundo gerava. No entanto, essa padronização acabou quando surgiu a globalização.

No mundo moderno industrializado existiam determinados padrões de referência, tais como o familiar, representado pelo pai, o da empresa pelo chefe, o da religião por Deus,... e, assim por diante.

No mundo atual essas figuras impares ou Universais que tendem ao UM centralizador, ficam desestabilizadas em uma sociedade globalizada onde vigora a pluralidade de laços sociais, ou a quebra dos estandartes. Esta realidade não acomoda o fator esquisito que tanto se tenta esconder.

Desta forma, restam poucas opções para se lidar com as esquisitices:

  1. - Nega-las ou construir novos padrões de comportamento mais autênticos, de acordo com o Eu Interior.
    Tornar-se mais independente das expectativas do Outro, passar a dar mais valor aos conteúdos mais íntimos, fazer nova amizade consigo mesmo, ou se colocar em check-mate diante de um mundo onde as coisas não acontecem com muita clareza.
    A transparência é uma das exigências dos novos tempos.
    Como ser transparente sem saber o que é transparência, visto que ela ultrapassa a natureza do ser humano?
  2. – Aprender a lidar com o risco da quebra de padrões, confrontar as esquisitices que levam a grandes angustias, a tentativas de sedação (uso de tranqüilizantes), ou ao afastamento do convívio social.
    O ser humano se sente mal com sua forma de ser, com sua forma esquisita de ser, não está acostumado a se responsabilizar por seus atos, a dar uma resposta às coisas que não entende. E o que é pior, pensa ser o único; que sua esquisitice é a pior e a mais abominável de todas.

- Qual seria o antídoto às tentativas frustradas de individualismo?

Um bom antídoto seria detectá-la, nomeá-la, separa-la das esquisitices do Outro, e ser amigo de si, respeitar seus desejos, respeitar seu jeito peculiar e único de ser, lidar com essas diferenças de forma criativa.

Quando se é amigo de alguém se tolera esse "outro" diferente e esquisito. Sabendo que o amigo é assim mesmo, e que apesar disso, continua sendo amigo, que tem seus limites e que contar com ele é relativo.

Porque não fazer isso consigo mesmo, porque não ser seu próprio amigo, e deixar as expectativas alheias de lado, exigindo somente o que pode ser exigido, até o ponto que sabe e pode fazer?

No amor, no relacionamento a dois, um realiza a esquisitice do outro. As esquisitices se completam e se complementam. Porque não amar tanto a si próprio a ponto de responsabilizar e realizar, para si mesmo as próprias esquisitices?

Quando os padrões, nos quais se acredita, não são sustentados e divididos por pessoas que estão próximas, começa-se a desconfiar de tudo e de todos. Neste tempo de globalização ninguém dá muito crédito a nenhuma identidade, e sem um crédito estável nem a própria pessoa dá crédito a si e começa a desconfiar de si própria.

Estar alerta para o eu interior, ser amigo de si, respeitar seus desejos, respeitar seu jeito peculiar e único de ser, lidar com essa “coisa esquisita” de forma criativa é a senha para bem viver.